Em época de pandemia muitos profissionais e clientes estão recorrendo às plataformas
online para manter atendimentos e serviços. Também na área da saúde, médicos, psiquiatras e psicólogos. Como fica o Acompanhamento Terapêutico à distância? A principal característica do AT é a movimentação no terreno do cliente, a visita à sua casa como ponto de partida para a cidade. Não existe consultório de AT, assim como não existe consultório de Educação Física, ou consultório de Jardinagem, são atividades realizadas em campo, por definição.
A migração da psicanálise para as plataformas online foi rápida, e relativamente bem sucedida, com suas limitações. A natureza de certas profissões facilita essa adaptação do presencial para o virtual.
Professores de educação física, os personal trainers, enfrentam desafios bem maiores, acompanhar o movimento dos corpos das pessoas, orientar posturas, incentivar, ainda com essas graves limitações estão conseguindo atender pelo celular e computador.
Poderia um acompanhante terapêutico atender online? Nesse caso, como distinguir o AT da função usual do psicanalista em consulta? Teria o AT que assistir por uma câmera as andanças do cliente como faz o personal trainer?
O trabalho de psicólogo ou analista é típico de consultório, se o acompanhante terapêutico reproduzir essa dinâmica de consultório estará deixando de acompanhar em campo, deixa de ser AT, e passa a ser psicanalista, o cliente deixa de ter um acompanhante no seu entorno. O psicanalista professor Dr Maurício Hermann (http://www.attenda.com.br/) conta um caso interessante onde ele atendia como acompanhante terapêutico um cliente, em campo, e após um tempo do tratamento conseguiu sugerir ao cliente que fosse experimentar uma conversa em seu consultório, e isso aconteceu. Ele relatou o caso num congresso de AT, sendo muito contestado pelos seus pares. Um forma de compreender o caso é considerar que o consultório do psicanalista é um terreno a mais a ser conquistado pelo cliente de AT, em tese a evolução do tratamento de AT permitiria suspender o AT e adotar o consultório. Por outro lado os críticos considerar que a transferência do cliente para o consultório causa a perda da potência do AT, como parceiro ombro a ombro no percurso pela cidade. Outro aspecto a considerar é que AT e consultório não são abordagem excludentes, nem estão submetidas a uma hierarquia de tratamento, onde um se colocaria após o outro.
Com este caso pretendo refletir como o acompanhamento terapêutico poderia entrar num ambiente online sem que fique caracterizado como consulta.
Se existe "algo de analítico no AT" como defende Hermann o atendimento de AT online pode surtir algo do benefício analítico. Além disso, o acompanhante virtual pode sim discutir caminhos a percorrer com seu cliente, e pode até mesmo estar online nesses momentos. O foco do AT é distinto do psicólogo. O AT vai estimular a ocupação do território, enquanto o psicólogo se debruça sobre o percurso prévio do cliente, também estimulando suas ações no dia a dia, mas sem a mesma pegada do AT, que pretende deixar um rastro por onde o cliente passa.
O cliente pode ter falta de capacidade cognitiva de operar celulares ou computadores. Isso afeta qualquer tipo de atendimento online. Vamos focar aqui naqueles que conseguem operar com estes equipamentos. Como poderia ser uma dinâmica online?
O acompanhante e cliente podem dialogar sobre ações que serão levadas a cabo naquele momento. Por exemplo, arrumar um armário, ou sair para ir no cartório, divulgar seu trabalho, enfrentar coisas que a pessoa não quer enfrentar.
Cada caso é um caso, não existe uma receita de bolo para tratamento AT. Eventualmente o cliente pode receber uma chamada de video do AT, conversam rapidamente, a chamada se encerra, o cliente faz o que queria fazer, depois o AT ou o cliente voltam a se falar. Mais ou menos como a comunicação constante que existe entre colegas de uma operação complexa com apoio remoto.
Considerar sempre as grandes limitações de interação do atendimento online, "Não é recomendado em situações de catástrofes, emergências, momentos de crises e distúrbios mentais graves como surto psicótico, ataques de pânico, ou depressão profunda" como escreve Yohana Barros Alécio no site do Projeto Sakura fonte https://projetosakura.com.br/como-funciona-o-atendimento-online-de-psicologia
A potência do AT está nos acontecimentos que ele facilita com seu cliente, fazendo junto, apoiando, estimulando, sugerindo, ouvindo e dando a mão quando preciso. Uma sessão online pode ajudar a orientar essas ações pela cidade, sob uma abordagem distinta da do psicólogo, o AT corre riscos junto com seu acompanhado. Enquanto a rotina de consultório pede uma certa concentração na elaboração das reflexões, o foco do AT é a produção de ação, acontecimentos.
Não se pretende substituir o atendimento presencial pelo online, apenas considerar que esse tratamento também é passível de ser realizado online, especialmente em casos relativamente leves.
Leia mais um breve artigo sobre uma proposta de AT Online na prática.
Ricardo Ramalho 22/12/20
AT
ricardoramalho3@gmail.com