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O percurso com o AT |
A atuação do AT em casos de depressão grave é bastante consagrada. O acompanhante vai ao domicílio, normalmente chamado por um parente ou amigo, ja que o enfermo não tem essa iniciativa, e começa a conversar e estabelecer um vínculo com a pessoa, sem a presença dos demais residentes. É um vínculo diferente do familiar, porque não tem tamanha intimidade e vícios de relacionamentos. Com o acompanhante não há frustrações prévias, tão comuns em relacionamentos familiares. A partir deste canal de interlocução forma-se uma cumplicidade que busca uma saída juntos, busca-se uma liberdade, realizações. Essas conquistas são tão importantes para o acompanhado, como para o acompanhante.
E na depressão leve, como o AT pode contribuir? No caso de transtornos moderados a pessoa ainda é produtiva e tem acesso a diferentes ambientes, então o AT pode entrar para potencializar essa produtividade e esses acessos. Assim o próprio cliente tem meios para ele próprio contratar o tratamento de acompanhamento terapêutico, em contraste aos quadros de demência que impossibilitam essa tratativa, quando cabe a família a contratação.
As pessoas com depressão leve possuem pendências para resolver, frustrações para superar, coisas para arrumar, projetos para tirar da gaveta, contatos para fazer, visitas a percorrer, gratidão para manifestar, generosidade para proporcionar, atenção para dar, e receber. O AT é um parceiro para realizar esses percursos.
Quais seriam os desafios do AT no tratamento de casos leves? A principal dificuldade é o desconhecimento deste tratamento. Psicólogos e psiquiatras são bem conhecidos, AT não, no Brasil. Uma outra dificuldade, que também se apresenta em casos graves, é a permissão do cliente em aceitar o acompanhamento a partir do seu próprio lar. Neste sentido o relacionamento do AT com seu cliente é mais intenso do que atendimentos de consultório, ambos estão no mesmo barco, imersos no mesmo universo. O cliente leve pode apresentar dificuldade em reconhecer a necessidade do tratamento, e por desempenhar socialmente a maioria das suas funções pode se refugiar num comportamento de fachada mais convincente à primeira vista.
Para encerrar essas considerações é importante distinguir o tratamento de casos leves com o tratamento preventivo ou profilático. De fato tratar o caso leve é uma medida preventiva para evitar o agravamento, mas um tratamento preventivo rigorosamente falando visa a manutenção de uma condição estável de boa saúde mental, o que não é o caso de portadores de sofrimento mental moderado, que buscam novos horizontes para o cliente.
Ricardo Ramalho
ricardoramalho3@gmail.com
publicado em 18/12/2020
atualizado em 26/12/2024
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