O Jean é uma espécie de Carl Sagan da Superdotação, ou seja, um cientista que ganhou notoriedade por divulgar o conhecimento e que, apesar da relevância da divulgação, poderá ser questionado pelas simplificações de alguns vídeos.
Não pretendo fazer posts sobre a condição dos outros, mas como ele é uma celebridade, é uma referência sobre o tema, e fala bastante sobre si mesmo, acho que cabe uma reflexão sobre um vídeo que ele publicou.Nesse vídeo do Instagram (link abaixo) o Jean diz que recebeu vários diagnósticos errados, incluindo um "quase diagnóstico de autismo leve, por alguns profissionais". Ou seja, mais de um profissional sinalizou autismo no Jean. O autismo é um espectro, o fato da pessoa estar numa escala baixa de autismo não exclui totalmente a presença do espectro autista. Contextos favoráveis de vida podem amenizar os sintomas de autismo. (E contextos desfavoráveis podem agravar os sintomas). A meu ver, é preciso cuidado com a simplificação do vídeo sugerindo que tudo se resume ao AHSD.
Nesse vídeo ele reconhece traços de TDAH, porque o AHSD tem características semelhantes ao TDAH. No elenco de diagnósticos errados ele cita "depressão". A depressão é uma comorbidade de muitos diagnósticos, como TEA, TDAH e AHSD, mas ele citou a depressão como "diagnóstico errado ". Convenhamos, não tem como refutar um quadro de depressão, se ele está presente. A descoberta da causa da depressão não exclui o diagnóstico de depressão.
O ser humano tem muitas nuances, a categorização de diagnósticos serve para orientar tratamentos, não adianta criar fronteiras muito rígidas entre os diagnósticos psiquiátricos. Os tratamentos tem muito a ver com as comorbidades específicas. Tratamento não é só falar com psicólogo e tomar medicação, tratamento também é trabalhar dificuldades, trabalhar habilidades, exercitar pontos de deficiência, desenvolver o ser humano, sociabilização, pertencimento. Então diferentes condições devem ser observadas.
O que o TDAH pode ensinar ao superdotado? Ensina que pode haver disfunção executiva, ensina que a medicação de TDAH pode ser útil ao AHSD (a ritalina), indica necessidade de suporte em algumas áreas.
O que o autismo pode ensinar ao superdotado? Ensina que a rigidez cognitiva pode atingir níveis muito altos, o hiperfoco pode ser muito limitante, a dificuldade de comunicação e sociabilização pode ser muito alta, o prejuízo à qualidade de vida pode ser muito alto e que a necessidade de suporte (incluindo parcerias e colaboradores) é obrigatória. Ensina que a crise de raiva pode ser um meltdown autístico, o burnout pode ser estresse sensorial e emocional, e que a máscara pode ser bem pesada.
Enfim. Nem tudo se explica pela superdotação. Aprendemos aqui que a superdotação não é transtorno, então havendo transtornos podemos supor que a pessoa tem algo além da superdotação.
Um abraço, bom final de ano a todos,
Ricardo Ramalho
https://www.instagram.com/reel/Cz_nuiURmyi/?igsh=NjlmOWp3d243Nnps
post publicado na comunidade de Altas Habilidades e Superdotação do Jean Alessandro.
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